quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Oliver

Estava aquela chuva de verão cretina caindo sobre Santana, eu estava cansada, voltando do centro da cidade com minha mãe, e precisávamos tomar um ônibus no terminal Santana. A fila estava ENORME. Veio um homem pedir dinheiro para comer. Minha mãe não deu nada, assim como as outras pessoas da fila. O homem se sentou; sujo, cheirando mal.

Eu estava tão cansada, o calor, e tudo o mais, pedi pra ir sentar, e sentei em um banco ao lado do homem. Ele me disse que estava a duas semanas sem comer. Eu disse que não tinha nenhum dinheiro, apenas o dinheiro da passagem de ônibus, o que não deixava de ser verdade, mas dei metade da minha garrafa de Coca Cola pra ele. O homem agradeceu, e bebeu com tamanho gosto, de uma só vez, como se aquela Coca fosse a última e melhor coisa da face da Terra.

Ele dizia: ''Saí de casa. Estou longe de casa'' Então começou a cantarolar a música da Blitz ''Longe de casa, a mais de uma semana'' e eu o acompanhei em um verso. Disse que não estava longe de seu amor, mas que precisava comer. Pediu ajuda novamente, para outra pessoa da fila : ''Ei, você, eu estou com fome e preciso de sua ajuda''. No início a moça ignorou, mas depois disse ''Eu não tenho nada para você''

Perguntei seu nome. ''Meu nome é Oliver'' Dai então minha mãe reparou que ele estava falando comigo e me mandou voltar pra fila. Eu não tinha opção, e voltei. Dois minutos depois, Oliver estava do lado da minha mãe, e dizia: ''Só uma coisa minha senhora; eu faltei com o respeito? Faltei com a dignidade?''

Eu pensei 'Realmente. Ele não fez nada. O que ele podia fazer alí? Estava aguentando nãos o dia inteiro, debaixo de chuva, morrendo de fome e de sede, e quando alguém lhe sorri, lhe dá algo, ou simplismente pergunta seu nome, aconteçe algo assim. Tive que voltar' Minha mãe disse: ''se estamos te ignorando, fique na sua'' Intervi. ''Mãe, pare'' E Oliver continou '' Eu não faltei com o respeito nem com a dignidade. Eu me humilho todos os dias pra pedir um real pra poder comer'' E minha mãe rebatia ''Mas nós não temos. É só isso '' E ele não pode fazer nada, simplismente se virou e voltou para o banco, indignado. Me senti mal.

Achei injusto minha mãe ser tão rispida, apesar de não ter sido mal educada, ela nem sabia com quem estava falando. Ele não havia lhe feito nada. Ele apenas estava lá, pedindo dinheiro, e eu lhe dei minha Coca Cola, lhe perguntei o nome.

Acho que as pessoas deviam tentar entender melhor o ponto de vista das outras, tentar se colocar no lugar das outras. Não sei. Mas eu simplismente não aguentava mais ver as pessoas serem tão estúpidas apenas porque se julgam serem melhores por causa do poder aquisitivo. Ou porque estavam mais cheirosas, mais bem vestidas. Ou tinham o que comer.
Patético.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A TOCA;

Criação do Layout por
Fabricio Leal
leal_fabricio18@hotmail.com